Galeria da Rua - Valparaíso



Olá!

Me chamo César Ferreira, tenho 30 anos e sou Artista e Professor residente em Valparaíso de Goiás. Cresci visitando Brasília e estudei na cidade. Uma coisa que sempre me incomodou é que por aqui há poucas opções de lazer, Arte e Cultura, talvez por causa da proximidade com uma cidade tão grande como a Capital Federal. Em Dezembro de 2020 concluimos a colagem de 24 fotos em grande formato nas paredes de contenção da ponte sob a linha férrea que liga dois dos bairros mais antigos da cidade.
 

Como sou fotógrafo, sentia a necessidade de compartilhar minhas fotos além das redes sociais, que por sua natureza, tornam trabalhos incríveis em números efêmeros de curtidas. A Arte Urbana, por outro lado, interage diretamente com a cidade e com as pessoas que por ela circulam e é capaz de ressignificar os lugares onde as obras estão - a fisicalidade as torna parte da arquitetura e provoca um novo olhar em quem interage com esses objetos urbanos. A Galeria da Rua é ao mesmo tempo uma Instalação e Intervenção artística.

Comecei as experimentações com Arte Urbana aqui em 2019, quando espalhei 5 fotos em grande formato no bairro em que eu cresci. Assim, quando passei por debaixo da ponte (local abandonado, sujo e perigoso) caminho diário de centenas de pessoas, senti medo e, ao mesmo tempo, tive uma ideia: por que não tentar modificar a relação das pessoas com esse lugar? O nome surgiu na mesma hora: Galeria da Rua, que remete aos museus e às Galerias de Arte, onde obras são apreciadas e vendidas a grupos seletos. Aqui, a galeria está aberta 24h. A maior influência é o Beco do Batman, em São Paulo, onde centenas de grafites estão espalhados pelos muros no centro da Vila Madalena e é um destino turístico conhecido internacionalmente. Espero que outros artistas de Valparaíso se inspirem no trabalho e também espalhem suas artes pela cidade; é porque na ausência de um museu, são os muros de uma cidade que exibem seus artistas.

Ao todo, são 24 fotos, separadas em dois grupos, um para cada lado da ponte. A técnica de colagem utilizada foi a do Lambe-lambe, que é de fácil aplicação e muito barata. Cada foto é composta de 16 folhas A4 e cada uma precisou ser recortada e colada individualmente. São 384 páginas no total. As fotos escolhidas têm dois temas: Como o lugar é utilizado como ponto de descanso por trabalhadores diversos, escolhi fotos de nuvens, que fiz durante a quarentena em casa. É um desejo de um bom sono, nas nuvens. Do outro lado, há fotos que fiz de amigos dançando com um tecido leve na beira do Lago Paranoá, antes da Pandemia. A escolha aqui é uma brincadeira: quando o trem passa, há um espaço entre os vagões e é possível ver uma foto de cada vez. Cria-se a ilusão de movimento. Um sonho, eu diria.

O projeto foi executado por três pessoas: eu, a Natália Ferreira, minha irmã, e a Camilla Russi (e uma ajuda do João!) e é totalmente independente. Foram duas semanas de trabalho e as fotos levaram 3 dias para serem coladas.










Projeto Claque - Retomada Cultural 


Objetivo


Percebendo a necessidade de mostrar fotos além das redes sociais e considerando a baixa oferta de museus e galerias de arte na região, a Galeria da Rua será uma intervenção urbana que propõe ressignificar os espaços urbanos de Luziânia com a colagem de 25 fotos em preto e branco utilizando a técnica do Lambe em lugares diversos da cidade, tornando-as parte da arquitetura e provocando um novo olhar em quem interage com os objetos urbanos transformados em galerias.


Justificativa


Esse projeto de galeria urbana visa questionar e debater os diferentes valores agregados dos espaços por onde circulamos, muitas vezes mecanicamente. Para as pessoas que cotidianamente frequentam a rua, carregada de estímulos visuais e sonoros, é comum não reparar nos objetos urbanos, como ruas, árvores, pistas, casas e muros. Esses elementos vão se tornando parte da configuração urbana e, por serem quase permanentes, são aos poucos esquecidos pelos transeuntes. 

O espaço público exerce papel fundamental como palco da vida urbana. É no espaço público que as práticas sociais têm oportunidade para acontecer. As praças, como espaços de permanência e de acontecimentos sociais, têm papel estruturador na identidade da cidade: são lugares de convívio social e também de manifestação da cultura. (EDELWEISS; GARZON, p. 4, 2017) 

Com a crescente flexibilização dos espaços artísticos, cada vez mais peças de arte começam a ser expostas em galerias abertas e urbanas. Obras urbanas como as do brasileiro Eduardo Kobra, que pinta murais em larga escala, e do inglês Banksy, com seus desenhos engajados politicamente, são hoje grandes expoentes no aumento de valor que tem ganho a arte urbana – uma reprodução em papel da obra “A menina e o balão”, de Banksy, por exemplo, foi leiloada por 1 milhão de Libras (e ironicamente destruída logo após arrematada, ainda na sala de leilão) em 2018. Ambos os artistas se destacam por dar novos significados a muros, prédios e fachadas: um espaço de reflexão usando a cidade como tela de pintura. Em Brasília, o artista visual Gurulino tem espalhado pelos muros da Capital Federal mensagens visuais de esperança. 

A interação com a arte urbana é rápida e efêmera: não temos o costume de percorrer a cidade, parar e apreciar arte e quando esta apreciação ocorre, é rápida. Como ela não muda, e tende a permanecer nos lugares por longos períodos, como criar obras capazes de surpreender os passantes cada vez que são visualizadas? Colocar arte na rua, dessa forma, é entender que ela se tornará invisível, integrada ao dia a dia das pessoas que interagem com esse cenário urbano todos os dias e “é importante observar que todo espaço de cultura é um espaço político, de posicionamentos e estratégias para expressão de opiniões, sendo importante o estudo da cultura popular e de massa, como chaves para entender o cotidiano e as relações sociais contemporâneas.” (NASCIMENTO; SOUZA; TOREANI, 2017, p. 4) 

Pallamin (2000) definiu o fazer dos artistas de rua como “fazer urbanística”, que significa “contribuir para a transformação qualitativa do urbano alterando seus objetos, sua espacialidade, qualificações, num trabalho que provoca e, ao mesmo tempo, exige a compreensão de seus códigos e interpretação de suas múltiplas significações”. (p. 17) 

Será que a obra se tornará convidativa ou inibidora? Em que será que se tornará o espaço após a intervenção?


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Fotos da transformção dos muros da ponte em Valparaíso de Goiás. 









Localização:


Fotos: César Ferreira
Modelos: Samuel Mairon e Marina Tedesco
Recorte e colagem: César Ferreira, Mills Russi, Natália Ferreira e João
Impressão: Gráfica Faria


Este projeto não utilizou recursos públicos em sua execução. 






Referências Bibliográficas



EDELWEISS, Roberta; GARZON, Maurício. A ressignificação do espaço público de Porto Alegre a partir da apropriação efêmera da cidade. Revista online do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Pontíficia Universidade Católica. Rio de Janeiro. Ano III – Nº III.

NASCIMENTO, L.; SOUZA, G.; TOREZANI, J. Lambe-lambe: a arte da intervenção urbana. XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste. Fortaleza. Junho-Julho 2017.

OBRA de arte de Banksy se autodestrói após ser vendida por mais de 1 milhão de libras. BBC News Brasil. 2018. Disponível em < https://www.bbc.com/portuguese/geral-45771649>. Acesso em Outubro de 2020

PALLAMIN, Vera. Arte Urbana ; São Paulo : Região Central (1945 - 1998): obras de caráter temporário e permanente. São Paulo, Fapesp, 2000.


tags: arte urbana, lambe, lambe-lambe, goiás, fotografia

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