Loucura

         A jovem senhora acordou cedo naquela madrugada. Levantou-se sentindo dores nas juntas, respirou, olhou para o teto mofado, calçou a sapatilha de grávida e andou até a cozinha da velha casa. A caçarola velha estava suja encima do balcão que um dia foi de madeira. Pegou e encheu com leite até a borda. Pôs no fogão para esquentar. Sentou-se na cadeira em frente o fogão e ficou olhando o fogo azul tocar o alumínio. Dois minutos depois as chamas dissiparam e o fogo acabou. A mulher fez uma cara de desapontamento. O marido levantou-se, bocejou chegou na cozinha. Pegou o leite e se sentou em uma cadeira oposta à mulher.

– Tá frio. – Falou rispidamente.

– Acabou o gás. – Respondeu sem olhar para o marido.

– Por que você não me avisou?

– Porque acabou de acabar. Não viu que está meio quente?

– Você pode ter colocado no sol...

– Que sol? Já parou pra olhar que horas são? – Levantou e se apoiou na janela. – Ah! É verdade! Você não repara em nada mesmo. Já viu o estado dessa casa? Da sua cama? Da sua esposa?

– Vai começar com isso mais uma vez Maria? É a segunda vez essa semana! Tomou o remédio?

– REMÉDIO, REMÉDIO, REMÉDIO! Aquela porcaria não presta pra nada! Já faz é muito tempo que eu não tomo aquilo!

– Por que você parou de tomar o remédio Mariazinha? – A voz do homem ficou doce rapidamente. –  Você sabe que ele era bom para o seu humor!

– Bom para o meu humor! Oras! – E saiu resmungando pela casa...

Apreensivo, o homem tomou o leite com calma e se arrumou para trabalhar. Na caixa de correio havia uma carta de um banco. Ao abrir, lá estava a cobrança da drogaria pelos remédios que há vários anos Maria precisa para controlar sua esquizofrenia, cada vez mais aparente...

Comentários