A nuvem

– Jorge, aquela nuvem tá vindo em nossa direção.

- Hã?

- É, olha aquele cacto. – uma nuvem encobre a planta que fica na sombra. – Viu? Ela tá vindo pra cá.

- Hum...

- Então, não devemos sair?

Jorge continuou  parado.

- Vai ficar aí parado?

- Ana, meu bem! Aquela nuvem foi mandada por Deus nosso senhor para nos salvar dessa sequidão!

- Pronto, começou o discurso “sou-crente-fervoroso” de novo! – Ana sentou-se em uma pedra. – Ai! – a pedra estava quente. – Já te falei que sou ateu.

- Ah, tá. – Jorge olhava pra nuvem que se tornava mais próxima. – Quando o jipe parou, me lembro direitinho de ouvir um “ai meu Deus!”

- São resquícios de minha vida cristã. – Começou a andar em direção oposta à nuvem. – Já superei. Agora vamos porque essa nuvem não pode ser coisa boa. Já vi coisas parecidas em vários filmes.

- Me convença a ir com você que eu vou.

-  Aquilo lá longe não é uma torre? – disse apontando uma enorme construção avistada na linha do horizonte. Tinha aparência de uma grande torre de televisão.

- Não. - disse virando a cabeça rapidamente. – É uma montanha. Esqueceu onde estamos?

- Bem, eu imaginei que como estamos no Deserto do Monte Televisivo, teria alguma cidade por lá...

- Ruínas... Estávamos indo pras ruínas dessa cidade ai. – fez um silencio congelante.

- Mas você é muito burro mesmo! Esquecer de abastecer o carro! – se jogou no chão após o argumento frustrado. – Maldito dia que eu aceitei sair com você! - Jorge sentou ao seu lado, olhando para o horizonte nublado. Ela também olho para a grande e cinza nuvem. Ficaram alguns minutos ali, esperando que ela chegasse.

- ANA! – gritou quando viu que alguma coisa mudara na paisagem. – TÁ CHOVENDO!

- Deus do Céus!

- Quê?

- Ué, alguém tem que ser responsável pelos meus problemas! – disse se levantando e aprumando, depois da cara de “qualé?” que Jorge fez.

- Como assim?

– Não viu o cacto?

- Não, por que?

- Acabou de derreter. Vamos, é chuva ácida!

- Diabos!