#4 Fuga!

    
... já subia alta madrugada quando Fernando resolveu sair; era hora de troca de turno na delegacia e ele não queria ser notado ao sair. Pegou uma velha mochila em um armário abandonado e pegou tudo o que era seu: poucas peças de roupas, e um caderno que usava para anotar tudo o que acontecia. Lá, estava tudo registrado, desde o dia em que abriu os olhos na cama do hospital. Por mais que não se lembrava de nada, achava muito importante que tudo estivesse arquivado e descrito detalhadamente. Há uma semana, Fernando nem sabia que se chamava assim. Descobriu quando fragmentos de memória vieram à mente e ele pôde se lembrar. Anotou tudo que viu no caderno, e deixá-lo na delegacia seria o mesmo que abrir sua vida para a mídia, que já sabia até que tipo de roupa ele usava para dormir.

            Decidiu não contar a ninguém, para que pudesse investigar o seu passado, de forma independente, sem a ajuda dos interesseiros da indústria televisiva. Mas, apesar da vontade de sair da cidade e procurar por seu destino era barrada pelo detalhe mais inconveniente: Todas as pessoas no país sabiam da sua existência. Seu rosto era capa de dezenas de revistas sensacionalistas, que acreditavam que Fernando era um alienígena enviado para aprender a viver com a raça humana para poder aniquilar toda a população mundial. Ridículo. Mas fazia todo sentido. Ele aparece no meio do mato, falando de uma mulher que ninguém conhece. Ao ser comparado os arquivos da polícia ele não é ninguém. Nem foto, nem impressão digital, nada é reconhecido. Fernando não existia, e um detalhe naquele momento o deixava confuso: Se não existia, como poderia ter um cartão de crédito?

            Perdido nos mais diversos pensamentos, Fernando deixou a delegacia carregando um pé de cabra. Iria arrombar um mercado e uma casa para roubar um carro e sair da cidade rapidamente. Como não era ninguém, não estaria cometendo crime algum... Foi ao mercado a duas ruas de distancia e forçou a entrada. Pegou facas, kit de primeiros socorros, ferramentas, isqueiros e bastante comida. Arrombou uma alfaiataria numa rua ali perto; mas não queria causar tanto prejuízo ao proprietário, que, pelas condições do lugar, sofria para manter a pequena loja aberta. Pegou apenas um bom terno.  Agora era a hora do grand-finale. Em Juuclantonn, havia muitos idosos ainda acostumados à calma e paz dos anos 60, e ainda deixavam suas casas abertas. Mas ainda sim não foi fácil escolher uma. Teria que ser uma ação rápida, e uma casa muito perto da outra complicaria se o vizinho resolvesse investigar o barulho. Quando decidiu qual seria a casa e se preparava para arrombar a garagem, um caça militar atirou um pequeno míssil na delegacia, que virou uma grande bola de fogo.

           Fernando estava desesperado. Precisava sair rápido de lá. Arrombou o portão rapidamente e entrou no velho carro. Não foi difícil fazer a ligação direta para dar a partida no carro. Já havia feito várias vezes...  Dois minutos depois já descia a rua. Quando virou a esquina, outro caça acabava de destruir o mercado. Ele estava sendo seguido. Afundou o pé no acelerador e correu para fora da cidade. Quando chegou ao centro de Juuclantonn teve que parar o carro rapidamente: Amanda estava no meio da rua, com algumas malas e vestida para guerra.

                – Deixa eu entrar! – Amanda gritou.

                – Não! – Fernando respondeu. – Vai embora!

                – Eu sei quem são eles! – Amanda acabou de falar e a casa agora se tornava uma nova bola de fogo. Pessoas gritavam na rua.

                – Entra!

              Logo que Amanda entrou no carro, o som de um helicóptero pode ser ouvido. Fernando arrancou e acelerou seguindo em linha reta pela escura avenida, agora sem luz. Em poucos segundos o helicóptero alcançou o carro, e começou a alvejá-lo. Dirigindo evasivamente Fernando conseguiu ficar abaixo de um viaduto, quase na saída da cidade.

                – Amanda! – Fernando gritou, desligando o carro. – Preciso que você dirija. Consegue?

                – É claro, mas o que você ta pensando em fazer? – O barulho das balas chegava ao casal assustadoramente.

                – O helicóptero está baixo o suficiente para eu tentar jogar umas facas neles.

            – FACAS!? – Amanda caiu na gargalhada. – FACAS! – pegou uma das malas e abriu: Várias armas se amontoavam lá dentro. Pegou uma metralhadora semi-automática e entregou para Fernando. – “Joga” isso neles!

              – Perfeito! – Fernando segurou a arma com cautela. Mas era uma cautela diferente. Ele sabia como usar...  Os dois trocaram de lugar. – VAI!

             Amanda arrancou e ao sair, a chuva de balas caiu com toda força sobre eles.  Em alta velocidade, não era difícil para ela desviar do ataque, e logo se mostrou uma exímia motorista. Em um movimento impressionantemente rápido,  pegou um CD e colocou no CD player do carro. Metal, da melhor qualidade, era a trilha sonora pra uma cena em que a probabilidade de sair vivo, era quase nula...

              Naquele momento, com a metralhadora em mãos, Fernando sentou na porta e se pôs para fora do carro. Mirou. Respirou. Atirou. E o helicóptero caiu...

(Com contribuições de Helen Gomes, e Bianca Jordão)

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