Pais de Primeira Viagem


Mônica abriu a porta e entrou. Rodrigo estava no fogão; ele olhou para a esposa e viu que ela entrou na cozinha com uma criança no colo.


“Oi, Xuxu!” Rodrigo cumprimentou Mônica com um selinho. “Quem é esse menininho?”

“Esse é o Paulinho...” Respondeu colocando a criança de aproximadamente um ano no chão que imediatamente começou a engatinhar.

“E de quem é?” Rodrigo voltou para o fogão para mexer o molho que cozinhava.

“É nosso!” Mônica deu um pulinho e encarou Rodrigo para ver sua reação.

“É sério, Mônica...” Rodrigo não se assustou e continuou mexendo o molho. “De quem é essa criança?”


“Na verdade eu não sei.” Mônica se abaixou para evitar que o bebê botasse os dedos na tomada. “Eu tava andando lá no Pátio e aí esse lindo passou engatinhando por mim.”

“E aí você pegou ele no colo e veio pra casa?” Rodrigo perguntou sem olhar.

“Basicamente, sim...” Mônica deu de ombros.

“E você tentou encontrar a mãe da criança?” Rodrigo começava a acreditar na história, por mais absurda que fosse ouvi-la da boca de Mônica.

“Ah! Eu procurei, sim...” Mônica pegou a criança do chão. “Mas aí eu achei ele tão bonitinho...”

“Você avisou os seguranças do shopping e a polícia?” Rodrigo desligou o fogo no fogão e sentou-se à mesa. Apoiou a cabeça com a mão e retirou o óculos redondos, fixando o olhar em Mônica, que seguiu o movimento do marido e sentou-se também.

“Ah! Eu achei que ele tinha cara de Paulo...” Mônica falava e acariciava o rosto da criança. “...e trouxe ele pra casa...”

“MAS VOCÊ É LOUCA!” Rodrigo gritou e levantou da mesa. Ele passava a mão na cabeça com poucos fios de cabelo. “Isso é loucura...”

“Amor, prestenção.” Mônica adotou um tom de voz mais sério. “Eu tava doidinha pra ter um bebê. Isso é melhor que engravidar! Sem falar que ele já passou do período crítico que todo recém-nascido passa...”

“Já chega.” Rodrigo pegou as chaves na bancada à sua frente. “Nós vamos na delegacia agora! Alguém já deve ter dado falta dessa criança..."

Antes porém que Mônica argumentasse, o bebê produziu um som que Rodrigo e Mônica entenderam como “Papai”. Rodrigo jogou as chaves de volta na bancada e voltou pra mesa, falando com aquela voz-de-falar-com-bebês: “É, eu sou o papai! Quem é o filhão? Quem é o filhão?”

Os dois foram presos dois meses depois.