Do Grunhido ao Satélite Por Juan E. Díaz Bordenave

“A regra de transmissão da informação mudou de unidirecional para multidirecional. A recepção não é mais passiva, é interativa, porque a mídia digital é mais do que um novo canal de comunicação, é um novo ambiente de relação com os consumidores e possui um componente de engajamento que faz toda a diferença.”

Walter Longo, Revista Galileu. Dezembro 2014



Do Grunhido ao Satélite
Por Juan E. Díaz Bordenave



Juan Enrique Díaz Bordenave (1926-2012) foi um intelectual paraguaio, nascido em Encarnación, a 360 km da capital Assunção. Estudou Agronomia na Escuela Nacional de Agricultura de Casilda, na Argentina. Em 1955 concluiu um mestrado em comunicação social em Periodismo Agrícola na Universidade de Wisconsin. Em 1956 começa a trabalhar como Especialista em Comunicação Agrícola na OEA (Organização dos Estados Americanos) onde ficou mais de 20 anos. Em 1966 concluiu o doutorado em Comunicação pela Universidade Estadual de Michigan. Mudou-se para o Brasil nos anos 70, onde trabalhou como professor convidado em diversas Universidades e como consultor da OEA. O livro “O que é Comunicação” foi publicado pela primeira vez em 1982 e explora uma preocupação com o homem social que é produto e criador da sociedade em que está inserido.  O segundo capítulo do livro, objeto desta resenha, Do Grunhido ao Satélite, procura de forma simples - talvez superficial - demonstrar o processo de evolução humana que resultou nos processos e tecnologias de comunicação. 


Segundo o autor, não se sabe como começou a comunicação entre os homens primitivos e, acredita-se que eles tenham feito uso das ferramentas que lhes era disponível: o próprio corpo. Os gritos, grunhidos e gestos dominavam as interações e logo somaram-se as imitações dos sons da natureza, como o sons dos animais, da água em movimento e da chuva. Os problemas dessas interações eram a falta de permanência (a mensagem se perdia logo era transmitida) e a falta de alcance (apenas poucos interlocutores poderiam ter acesso àquela mensagem). Passar a mensagem para frente tornou-se necessário. 


O autor deixou de mencionar no entanto, que o aumento da complexidade comunicativa humana se deu à medida que as sociedades se tornavam complexas e a humanidade se tornava cognitivamente mais avançada, passando à exposição dos desenhos primitivos encontrados em cavernas. Os pictogramas já demonstravam que os processos de interação humana estavam se aperfeiçoando e, desconsiderando talvez vinte mil anos de humanidade, o autor mencionou os Egípicios e seu completo sistema de desenhos e gravuras que representavam seu povo e cultura. Mais interessante ainda foi dizer que “o homem sentiu-se demasiadamente limitado pela necessidade  que a cada signo [unidade significativa] correspondesse um objeto” (BORDENAVE, 2006 p. 26), desconsiderando que até hoje são utilizadas imagens que correspondam à objetos.


Os meios de comunicação são explorados de forma mais aberta e, de acordo com o autor, “paralelamente à evolução da linguagem, desenvolveram-se também.” (BORDENAVE 2006, p 29) tendo como grande marco, a tipografia desenvolvida por Gutenberg, responsável por gerar a primeira produção em massa de um livro: A Bíblia. Chegando ao final do século XIX e começo do XX, Bordenave menciona a invenção dos equipamentos eletrônicos, como o telégrafo, o telefone, o radio, a televisão e os satélites, nessa ordem. Para o autor, ser capaz de se comunicar à grandes distâncias é fator crucial para determinar a influência social de um meio de comunicação e logo, a associação da ciência e a tecnologia da comunicação gera constantemente inovações. O fato de colocar aparelhos capazes de replicar e distribuir sinais para a Terra à milhares de quilômetros do solo é uma evidência da quantidade de dinheiro gasta na área. 


Hoje, as tecnologias de comunicação se apresentam cada vez mais integradas à nossa vida em sociedade, com recursos audiovisuais a um dedo de serem alcançadas gerando impactos além da aproximação de culturas e pessoas distantes fisicamente, mas “o impacto dos meios sobre as ideias, as emoções, o comportamento econômico e político das pessoas, cresceu tanto que se converteu em fator fundamental de poder e de domínio em todos os campos da atividade humana” (BORDENAVE, 2006. p. 33). Campos esses que, como observou Bakhtin (1972, p 279) em seu famoso ensaio Os Gêneros do Discurso, “por mais variados que sejam, estão sempre relacionados com a utilização da língua.” 







Referências Bibliográficas



DÍAZ BORDENAVE, Juan E. Do Grunhido ao Satélite. in: DÍAZ BORDENAVE, Juan E. O que é comunicação. Brasiliense, São Paulo: 2006. Disponível em: <http://minhateca.com.br/amilcarodrigues/LIVROS/Colecao+Primeiros+Passos/O+que+*c3*a9+C omunica*c3*a7*c3*a3o+-+Juan+Bordenave,35235150.pdf> Acesso em 25 de Fevereiro de 2015





Bibliografia Complementar


BELGROWICZ, J. Resumo - O que é Comunicação - Juan E. Díaz Bordenave. Disponível em: <http://jhonebelgrowicz.blogspot.com.br/2010/05/blog-post.html>  Acesso em 25 de Fevereiro de 2015


BAKHTIN, Mikhail Mjkhailovitch. Os Gêneros do Discurso. in: BAKHTIN, Mikhail Mjkhailovitch.  Estética da criação verbal [tradução feita a partir do francês por Maria Emsantina Galvão G. Pereira revisão da tradução Marina Appenzellerl. — 2’ ed. —São Paulo Martins Fontes, 1997.


BERTONI, Estêvão. Juan Enrique Días Bordenave (1926-2012) - Educador e comunicador paraguaio. Obituário. Folha de São Paulo. 02 de Dezembro de 2012. Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1194642-juan-enrique-diaz-bordenave-1926-2012---educador-e-comunicador-paraguaio.shtml>. Acesso em 25 de Fevereiro de 2015.


KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro da 3. ed. francesa. – 131. ed. 1. imp. (Edição Histórica) – Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2013.


LONGO, Walter. Bem Vindos ao Mundo Pós-Digital. Revista Galileu - Edição 281 de Dezembro de 2014 - Páginas 26 e 27 - Editora Globo



“[...]O homem tem por missão trabalhar pela melhoria material do planeta. Cabe-lhe desobstruí-lo, saneá-lo, dispô-lo para receber um dia toda a população que a sua extensão comporta. Para alimentar essa população que cresce incessantemente, preciso se faz aumentar a produção. Se a produção de um país é insuficiente, será necessário buscá-la fora. Por isso mesmo, as relações entre os povos constituem uma necessidade. A fim de mais as facilitar, cumpre sejam destruídos os obstáculos materiais que os separam e tornadas mais rápidas as comunicações. Para trabalhos que são obra dos séculos, teve o homem de extrair os materiais até das entranhas da Terra; procurou na Ciência os meios de os executar com maior seguran-ça e rapidez. Mas para os levar a efeito, precisa de recursos: a necessidade fê-lo criar a riqueza, como o fez descobrir a Ciência. A atividade que esses mesmos trabalhos impõem lhe amplia e desenvolve a inteligência, e essa inteligência que ele concentra, primeiro, na satisfação das necessidades materiais, o ajudará mais tarde a compreender as grandes verdades morais.”

O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo XVI, item 7 - 

Utilidade providencial da riqueza.


Comentários